7 problemas enfrentados no processo de sucessão em empresas familiares rurais
Empresas familiares rurais são muito comuns no agronegócio brasileiro, tendo por isso grande participação no sucesso desse importante setor. Entretanto, chegará o momento em que a empresa familiar rural terá que passar por um processo de sucessão familiar.
Para que a gestão da empresa passe de pai para filho é necessário muito planejamento, tempo, dedicação e comprometimento de todos. Não é sempre isso que acontece, já que muitas estatísticas indicam que apenas 1/3 das empresas familiares rurais chegam à 2ª geração e apenas 10% chegam na 3.ª geração.
Isso acontece por muitos obstáculos enfrentados pelas empresas familiares rurais que, quando não bem resolvidos entre pais e filhos, podem ocasionar sérios problemas a ponto de comprometer a continuidade do negócio familiar rural.
Veja então os 7 problemas que ocorrem durante o processo de sucessão familiar e saiba quais são as dicas para solucioná-los.
1. Iniciar a sucessão somente após a morte dos pais
Um dos grandes motivos que fazem um processo de sucessão de empresas familiares rurais falhar é iniciar a transferência do negócio somente após a morte dos pais. Este é, sem dúvidas, o pior momento para iniciar o processo sucessório, porque a razão e a emoção acabam se misturando.
Para impedir que isso ocorra, o momento ideal para fazer a sucessão é quando os pais têm entre 55 e 70 anos e os filhos entre 30 e 35 anos. Isso não significa que os pais de 75 anos ou mais não podem fazer a sucessão, mas o ideal é fazê-la com um limite de 70 anos.
A sucessão com os pais vivos permitem ainda melhor planejamento de todo o processo sucessório, que costuma ocorrer a médio/longo prazo, em torno de 1 ano e meio e 2 anos.
2. Falta de comunicação e paciência entre gestores das empresas familiares rurais
Processos de sucessão familiar que tenham uma duração média de apenas 6 meses têm grandes possibilidades de não se sustentarem. Essa pressa na sucessão ocorre em razão de dois fatores: falta de paciência e falta de comunicação.
Um exemplo da falta de comunicação ocorre quando um patriarca tem 2 filhos, mas apenas um deles irá tomar as rédeas do negócio e o outro terá outra atividade (fora do negócio), sendo apenas um acionista.
A partir daí, muitas perguntas surgem:
Qual é a relação de confiança? Como vai ser a participação nos resultados do filho que está fora do negócio em relação àquele que irá gerir o negócio? Como é que o pai e a mãe vão se sentir agora que as decisões não são tomadas apenas por eles, mas sim em conjunto, com perfis de pessoas completamente diferentes?
Para resolver essas questões, as regras devem ser muito claras para que a decisão não seja do filho administrador, mas sim das regras previamente estabelecidas. Por isso, paciência, comunicação e regras são fundamentais na montagem de um bom processo de sucessão.
3. Falta de interesse do sucessor pela empresa familiar rural
Outro problema bastante comum em processos sucessórios de empresas familiares rurais é o desinteresse de muitos jovens pelo ambiente agrícola. Alguns são os pontos que contribuem para que isso ocorra:
- Falta de incentivo dos pais para que filhos permaneçam no campo;
- Busca por outras oportunidades de renda/trabalho;
- Recurso limitado para seguir com a atividade rural;
- Desconhecimento do negócio da família, ou seja, da gestão da propriedade.
Esses desafios, de certa forma, desanimam os jovens e herdeiros, fazendo com que a atividade agrícola deixe de ser interessante para eles.
Para evitar esse desinteresse do sucessor pelo negócio familiar é preciso investir na comunicação entre pais e filho(s). O pai deve ser o exemplo e fazer com que o filho naturalmente goste do trabalho no campo.
Com essa comunicação mais familiar, o sucessor será lentamente incorporado nas atividades da fazenda, o que não deixa de ser um treinamento para o futuro.
4. Despreparo dos filhos para gerir o negócio
Não são raras às vezes em que os herdeiros da propriedade rural não têm preparo para tomar conta da atividade e, quando o fundador/patriarca se ausenta, tomam decisões erradas. Esse despreparo pode vir tanto pelo desinteresse do possível sucessor quanto pelo seu perfil que não se encaixa no negócio.
Por isso, o primeiro passo para essa ampla jornada da sucessão é o autoconhecimento, no qual todos os possíveis herdeiros devem fazer um trabalho vocacional para ver em, qual papel se encaixa melhor na empresa (caso queiram participar).
Alguns vãos se sentir mais à vontade assumindo a lavoura ou a criação do gado, enquanto, outros vão preferir o papel de acionistas enquanto seguem carreiras paralelas não ligadas ao campo.
Aquele que está decidido em participar da gestão da empresa deve começar a investir na sua formação desde cedo, com cursos de agronomia, veterinária, zootecnia, administração e outros estudos que poderão agregar à gestão das empresas familiares rurais.
5. Alta resistência do patriarca da família
Não são raras as situações em que o problema não é o despreparo dos filhos e sim, a alta resistência do patriarca (administrador atual) que não quer abrir mão do comando da propriedade, resistindo em passar o bastão para as novas gerações.
Tal preocupação ocorre porque o patriarca teme perder o poder e sua identidade como fundador e líder do negócio. Esse problema, além de dificultar a transição, levanta um grande obstáculo ao crescimento de empresas familiares rurais.
Por essa razão, investir na melhoria da comunicação entre pais e filhos é mais uma vez a solução mais importante para que o processo de sucessão familiar tenha sucesso.
6. Não investimento em processos tecnológicos
Com o advento da agricultura 4.0 a tecnologia está cada vez mais inserida na agricultura. Assim, o campo se tornou o lugar de pesquisa, investimentos e adoção das mais modernas ferramentas digitais.
Além disso, softwares de gestão são bastante úteis para padronizar e gerenciar os dados do negócio, facilitando a transição. A agricultura de precisão (ligada à agricultura 4.0) também trouxe inúmeras técnicas e instrumentos que garantem melhores resultados, como mapeamento de fertilidade, GPS, sensoriamento remoto, etc.
Essas tecnologias fazem com que o agronegócio seja ainda mais atrativo para os herdeiros, o que pode induzi-los a se interessar pelo negócio, facilitando o processo de sucessão familiar.
7. Não conduzir a sucessão baseada na governança corporativa
Como vimos, em empresas familiares rurais, a transição do negócio para as futuras gerações podem representar um grande problema, já que muitos interesses são conflitantes, podendo piorar bastante a comunicação entre pai e filhos neste processo.
Em tais casos, a ausência na implantação de práticas claras, concisas e transparentes podem ocorrer em razão da ineficiência da governança corporativa, caracterizada como um processo que visa profissionalizar a forma como é feita a gestão da empresa, assegurando maior autonomia de cada membro da sucessão.
Por isso, a adoção da governança corporativa deve ser uma estratégia de fundamental importância. Entre as etapas dessa estratégia é necessário:
- Estabelecer uma hierarquia;
- Montar políticas organizacionais bem definidas;
- Ter um conselho consultivo;
- Fazer tudo em etapas;
- Ter um bom e constante acompanhamento das atividades.
Assim, a utilização e estruturação de uma governança corporativa ajudará a gerar valor ao negócio, com o “dono” podendo integrar seus interesses (lucro) aos interesses da sociedade como um todo, gerando transparência, gestão, valor de mercado, entre outros benefícios.